Pandemia do COVID-19 traz mais dificuldades para as Santas Casas

Postado em: 20/05/2020

FPA: atendimentos são pagos com recursos próprios e doações de empresas e da comunidade 

            A tradição da Fundação Padre Albino (FPA) nas suas áreas de atuação converge com a vanguarda, dedicação visionária e humanista de Padre Albino. Fundada em 27 de março de 1968, a Fundação Padre Albino, entidade sem fins lucrativos, tem como maior missão, até hoje, a promoção social e a melhoria da condição de vida dos mais necessitados, especialmente dos doentes. Aliás, tudo começou com o Hospital Padre Albino, em 1926, e o Lar dos Velhos, hoje Recanto Monsenhor Albino, em 1929.

            Nesses anos todos, a Fundação luta para manter-se sólida, sempre em busca da sustentabilidade social e financeira, apesar das dificuldades enfrentadas, principalmente pela baixa remuneração do Sistema Único de Saúde/SUS.

De acordo com o diretor presidente da Diretoria Executiva da Fundação, Reginaldo Lopes, com dois hospitais escolas atendendo em torno de 80% dos pacientes da região pelo SUS, que remunera, em média, somente cerca de 60% dos custos dessa prestação de serviços, “dá bem para ter ideia do tamanho do rombo que temos que cobrir mensalmente”. Ele continua informando que, além disso, os dois hospitais atendem sempre muito mais do que o contratualizado, isto é, realiza, em média, cerca de 20 ou 30% a mais de serviços do que deveria. Assim, resume ele, o rombo, que já é grande, decorrente dessa baixa remuneração, torna-se ainda maior.

Reginaldo salienta que em 2019 os hospitais Emílio Carlos e Padre Albino, mantidos pela Fundação, apresentaram déficit de R$ 19 milhões e o Recanto Monsenhor Albino de R$ 2,4 milhões. Os déficits acumulados destas três unidades nos últimos nove anos (2011 a 2019) somam mais de R$ 100 milhões. ”Esses recursos poderiam ter sido investidos na melhoria das estruturas dos hospitais, assim como no aumento da capacidade de atendimento”, lamenta ele, lembrando que estudo do Conselho Federal de Medicina de 2018 aponta defasagem de 42% no gasto público com saúde em dez anos, o que comprova as dificuldades enfrentadas pelas Santas Casas e hospitais filantrópicos.

            Para manter os atendimentos nas áreas da saúde e da assistência social, assim como ajudar a cobrir os déficits acima, Reginaldo Lopes disse que a Fundação conta com a colaboração da comunidade, através de doações, verbas de emendas parlamentares, auxílios governamentais esporádicos e receitas de outras unidades de negócio, como a UNIFIPA e o Padre Albino Saúde, que prestam serviços de excelência a seus alunos e clientes. “Essas receitas são essenciais para o equilíbrio financeiro da instituição”, frisa.

            Reginaldo lembra que o Serviço de Radioterapia do Hospital de Câncer de Catanduva está em funcionamento desde 14 de agosto de 2019 e já realizou mais de 4.400 sessões de tratamento, num total de 176 pacientes, média de 25 ao dia. “O Serviço está em fase de credenciamento junto ao Ministério da Saúde para que, através do SUS, possa receber recursos para o tratamento dos pacientes”, disse, acrescentando que enquanto o credenciamento não é finalizado, 100% das sessões de radioterapia são pagas com recursos próprios da Fundação Padre Albino, por meio de doações da comunidade e emendas governamentais.

 

PANDEMIA

 

            A Fundação Padre Albino montou estrutura completa para atendimento dos pacientes com COVID-19, treinando e preparando seus profissionais de saúde desde janeiro. Prevendo a demanda maior para tratamento desses casos, setores do Hospital Emílio Carlos foram isolados para criação da URA (Unidade para Respiratórios Agudos), com 42 leitos de internação para pacientes respiratórios, sendo 20 destes equipados para cuidados intensivos e 22 de enfermaria.

A URA é constituída de Unidade de Pronto Atendimento exclusivo, Ala Marfim, com 21 leitos de internação de pacientes não críticos e três leitos de cuidados críticos. Essa ala foi isolada, ou seja, não há ligação com as outras áreas do hospital. Para tornar isso possível, a Fundação Padre Albino, com recursos próprios, investiu R$ 1.800.000,00 para compra de 15 ventiladores mecânicos, monitores multiparamétricos, eletrocardiógrafos, desfibriladores e bombas de infusão.

            Desde fevereiro até 13 de maio último já foram feitos 189 atendimentos, 96 internações, 93 pacientes liberados na triagem18 internações de UTI e 78 internações de enfermaria. “A Fundação está aguardando o credenciamento dos leitos por parte do Ministério da Saúde, sendo que os atendimentos realizados até o momento foram pagos com recursos próprios e doações de empresas e da comunidade”, informou também Reginaldo.

            O tratamento da COVID-19 apresenta uma  realidade adversa, comparada com o perfil de tratamento padrão para as patologias até hoje atendidas e tratadas nos hospitais, considerando a complexidade e especificidade dos atendimentos e tratamentos, que geram grande impacto nos custos dessas unidades hospitalares em decorrência, principalmente, da quantidade e valores (preços elevados) dos EPI’s (Equipamentos de Proteção Individual) utilizados e da necessidade de tratamentos intensivos e de enfermaria com longa permanência.

            Reginaldo Lopes informa que o Plano de Contingência elaborado pela Fundação prevê custo mensal adicional estimado de R$ 3 milhões, considerando a ocupação total dos leitos, sendo que o principal motivo para o aumento é o consumo de EPI’s dentro da norma exigida. Ele acrescenta, ainda, que caso o número de atendimentos aumente, provavelmente será necessária a contratação de mais plantonistas e profissionais da assistência.

            Segundo Reginaldo, a Fundação Padre Albino tem gasto, em média, quase R$ 140 mil mensais somente em refeições para atender a URA. No mês de abril foram servidas aproximadamente 5.200 refeições entre café da manhã, almoço, lanche da tarde, jantar, lanche noturno e lanche da madrugada aos pacientes confirmados e suspeitos para a COVID-19, funcionários de todas as áreas e médicos.

 

PROMESSAS

 

            Quando a ainda epidemia se instalou no Brasil houve um surto de promessas de várias autoridades públicas - governo do Estado de São Paulo, inclusive, de destinação de recursos para prover a rede pública de saúde, incluindo as Santas Casas e hospitais filantrópicos, onde, sabia-se, o problema iria impactar. Elas, que já atendiam 47% de todas as internações hospitalares e 59% de todas as internações de alta complexidade a um custo brutalmente inferior em relação aos hospitais públicos, precisavam ser socorridas para poder enfrentar a crise que se descortinava.

            Passados quase 60 dias da decretação de calamidade pública pelo Estado de São Paulo (20/03/2020), as Santas Casas e hospitais filantrópicos, que tiveram de movimentar toda a sua estrutura com recursos próprios na preparação para o enfrentamento da pandemia, inclusive com a criação e oferta de mais leitos, ficaram até o presente momento sem os tais recursos e estão, em pleno pico viral, atendendo como podem toda a população infectada.

            De acordo com o presidente do Conselho de Administração da Fundação Padre Albino e 1º vice-presidente da FEHOSP – Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do Estado de São Paulo, José Carlos Rodrigues Amarante, “os recursos liberados até agora contemplaram somente as prefeituras e os hospitais públicos, que também precisam, claro, mas atendem somente 25% da alta complexidade SUS e a um custo muito superior aos da rede privada filantrópica”.

            Para Amarante, as Santas Casas e hospitais filantrópicos, que já enfrentavam déficits monstruosos sem a pandemia, agora estão entrando em desespero. “Sem o dinheiro prometido não há luz no fim do túnel. Não podemos nem mesmo contar com as regulares doações vindas de eventos promovidos pela sociedade em razão do distanciamento social. Mais uma vez o setor que sustenta a saúde pública no Brasil é relegado ao limbo, à sua própria sorte, ao descaso dos governantes. Até quando?”, alerta.

            Amarante ressalta que muitas pessoas têm se manifestado, reconhecendo o excelente trabalho que as Santas Casas e hospitais filantrópicos vêm prestando ao longo de muitos anos, apesar do negligência governamental em todos os níveis para com elas. “Calculam que de agora em diante haverá olhar mais criterioso dessas autoridades para com o setor, sobretudo na recomposição da remuneração, há anos defasada, pelos serviços prestados. Isso seria muito bom, mas estamos cansados de conversa fiada. Já não alimentamos mais esperanças depois de tantos anos de promessas não cumpridas. Não somos céticos, mas temos motivos para acreditar que tudo ficará por isso mesmo assim que a pandemia passar. E a conta será pendurada, mais uma vez, na já impagável dívida das combalidas Santas Casas,” pondera.

            Por fim, Amarante desabafa: “Será que nem desta vez nossos governantes se convencerão de que só um sistema de saúde bem estruturado e convenientemente remunerado pode responder prontamente a qualquer desafio? E acima de tudo salvar vidas e evitar mortes desnecessárias?”.

           

A IMPORTÂNCIA

           

            Hoje, a Fundação Padre Albino é uma das maiores empregadoras de Catanduva e região, contando atualmente com 2.441 funcionários diretos. Reginaldo ressalta que em 2019 o valor das remunerações pagas aos funcionários e prestadores de serviços pessoa jurídica da Fundação representou 21% do total arrecadado pelo município de Catanduva.

            Os hospitais Padre Albino e Emilio Carlos e o Ambulatório Médico de Especialidades/AME Catanduva, sob gestão da Fundação Padre Albino, atendem população estimada de 330.000 habitantes, pertencentes a Catanduva e a 18 municípios da microrregião, e junto com a UNIFIPA, que também atrai alunos de diversas regiões do país, geram importante circulação de pessoas, com grande impacto no comércio e mercado imobiliário da cidade.

            Por fim, Reginaldo ressalta que apesar das dificuldades, a Fundação Padre Albino segue buscando cumprir a missão de seu patrono, muitas vezes fazendo saúde pública com recursos privados. “Não vamos desistir dessa missão e para isso também contamos com a ajuda da população e dos agentes públicos. Não podemos deixar de agradecer aos voluntários, cuja colaboração é fundamental, e aos nossos funcionários, que através de empenho e dedicação têm contribuído para o sucesso e a continuidade do nosso trabalho”.

            Mais informações sobre as atividades da Fundação Padre Albino podem ser encontradas no seu portal fundacaopadrealbino.org.br onde estão inseridos o Relatório anual de atividades, os balanços social e patrimonial, assim como a aba Transparência.

 Foto: A Fundação Padre Albino montou estrutura completa para atendimento dos pacientes com COVID-19.

 

 


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